* Nº 0140 - MESTRES MAÇARICOS - SÉRIE: CONTOS DE MAYANDEUA
O que tornava esses pequeninos alados tão especiais não era apenas sua incrível capacidade de voar milhares de quilômetros, cruzando oceanos e continentes. Era também o segredo que guardavam em seus corações, um saber ancestral herdado do primeiro voo: a habilidade de ler as estrelas. Sim, os maçaricos eram navegadores celestiais, carregando em seus olhos um mapa cintilante, como se tivessem bússolas mágicas embutidas em suas almas.
Antes de partirem para suas jornadas épicas, os maçaricos realizavam um ritual sagrado. Alimentavam-se de frutos e sementes mágicos que só brotavam à beira das águas encantadas. Era dito que esses alimentos não apenas os fortaleciam, mas também lhes conferiam energia de proteção, um brilho discreto que os envolvia como um manto invisível. Mais impressionante ainda era a transformação de suas plumagens: com o passar dos dias, suas penas assumiam tons que os escondiam do olhar predador, como se a própria natureza os envolvesse em um abraço protetor.
No entanto, a vida desses viajantes não era feita apenas de encanto. Eles enfrentavam grandes desafios, especialmente nos tempos em que os humanos começaram a ocupar as terras próximas às águas. Lagunas, praias e manguezais — antes santuários de tranquilidade — tornaram-se, pouco a pouco, lugares de ameaça. Mesmo assim, os maçaricos, resilientes e cheios de sabedoria, continuavam a cumprir seu papel no equilíbrio da natureza. Eles ajudavam as águas a respirar, espalhavam sementes e lembravam ao mundo que, mesmo diante das dificuldades, a Terra era um lugar de maravilhas.
Dizem que muitos maçaricos, em suas viagens, encontraram na ilha de Mayandeua um refúgio. Durante o grande Verão Amazônico, eles descem do céu como pequenas estrelas que pousam sobre as areias brancas e lagunas de águas cristalinas. É em Mayandeua que, protegidos pelo olhar de Maya, a deusa das águas, os maçaricos encontram a paz que tanto buscam. Entre voos e descansos, suas canções se misturam ao som das ondas e ao farfalhar das árvores.
Primolius, o cronista alado de Mayandeua e Algodoal , muitas vezes é visto em meio a esses pequenos viajantes. Com suas penas azuis e olhar curioso, ele voa lado a lado com os maçaricos, escutando suas histórias e aprendendo os segredos das estrelas. Ao retornar, Primolius narra aos habitantes da ilha as lições trazidas pelos pássaros:
— Cuidemos da natureza como cuidamos de nossas próprias casas. Pois, assim como os maçaricos encontram abrigo aqui, nós também dependemos da Terra para voar livres.
E assim, em Mayandeua e Algodoal, os maçaricos não são apenas visitantes; são símbolos de resistência, liberdade e harmonia. Seus voos não apenas cruzam os céus, mas também os corações daqueles que se permitem ouvir o chamado da natureza.
- E assim surge mais um verão na ilha!
FIM
© Copyright de Britto, 2020 – Pocket Zine
Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0140