ESTRELAS E PALAVRAS Nº 0448 - CARTA-POEMA

 




(Carta Semanal - Mayandeua)

Era uma noite serena, iluminada pelas estrelas cintilantes que pontuavam o céu. Entre todas elas, havia uma que parecia se destacar, brilhando intensamente no horizonte. Um homem com uma alma poética não pôde deixar de notar aquela estrela tão singular. No decorrer dos anos, a estrela permaneceu como uma companhia constante ao peito do homem. Ela era como uma cordilheira que se mantinha presente, imutável com o passar do tempo. Mas como tudo na vida, também aquela estrela tinha um destino incerto. Gradualmente, a estrela começou a perder seu brilho. Já não fulgurava como antes, e seu esplendor foi se desvanecendo pouco a pouco, deixando o homem intrigado com sua misteriosa jornada. Naquele processo de perda, a estrela também pareceu levar consigo uma parte da vida do homem e abrir um caminho secreto para um novo mundo de sentimentos. A estrela era diferente, única em sua beleza e inspirou o homem a escrever diversas cartas. Cada linha era como uma reverência a essa luminosa presença em sua vida. A conexão entre a estrela e as palavras se tornaram  profundas, como se a própria essência da estrela estivesse imbuída nas palavras do homem. Mas, apesar da admiração e do encantamento, o homem sabia que não poderia corresponder-se com a estrela para sempre. As estrelas têm suas próprias razões para brilhar, e elas não pertencem a ninguém. Assim como a chuva fina que lava os olhos, a estrela seguiu seu curso celeste, deixando o homem com saudades e uma melancolia poética.

Aquela estrela no horizonte permaneceu durante anos, acompanhando a espera paciente do homem. Firmemente ela chegou, entregando seu brilho e inspirando os versos mais belos. Mas como toda estrela, um dia ela partiu. As estrelas, como criaturas cósmicas, não podem pertencer a alguém, e o homem compreendeu isso ao ver sua estrela partir. Ela fecundou a palavra amor em suas palavras, congelou sentimentos, e quando não satisfeitas, caíram do céu em chamas. E aquela estrela, tão especial para o homem, partiu como uma estrela cadente, deixando apenas lembranças e emoções profundas.
Mesmo que o homem não pudesse mais corresponder-se com sua estrela, ele sabia que ela continuava a brilhar para todos, alimentando a poesia de outros corações. E assim, livre e serena, a estrela buscava outras luzes maiores, e o homem continuava a produzir outras cartas, sedento por novas experiências, esperando o próximo momento em que outra estrela lhe brindaria com sua beleza e inspiração. 

Afinal, é no encontro com o efêmero que a eternidade se revela.

FIM
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Projeto Musical e Literário Primolius Nº  0448


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