* Nº 0411 - MURMÚRIOS COLORIDOS - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA

 


Artista pintando,  

Paisagem na mente,  

- Pincéis beijando as cores.  

Desde criança, ela era fascinada pelo poder das cores e formas que surgiam ao toque dos pincéis. Para ela, a arte não era apenas uma habilidade, mas uma maneira de traduzir o que sentia, sonhava e vivia. Suas telas eram um reflexo do mundo exterior e interior — um diálogo entre o que seus olhos captavam e sua imaginação criava. No entanto, seu tema predileto sempre foi a paisagem. A natureza, com sua beleza infinita, diversidade impressionante e harmonia silenciosa, a inspirava profundamente. Ela se via conectada ao mundo ao seu redor, como se cada folha, rio ou céu fosse parte dela. E em suas obras, buscava capturar essa conexão essencial.

Um dia, tomada por um impulso diferente, ela decidiu criar algo novo. Em vez de retratar uma paisagem já existente, resolveu trazer à vida uma visão que habitava apenas sua mente. Uma paisagem ideal, um lugar onde pudesse encontrar paz e refúgio, longe das turbulências do cotidiano. Com seus pincéis e tintas dispostos à frente, começou a trabalhar sem planos rígidos, deixando-se guiar pela imaginação. Misturava as cores com delicadeza, como se os pincéis beijassem a tela; traçava as linhas com suavidade, como carícias; e moldava as formas com liberdade, permitindo que surgissem espontaneamente, como surpresas reveladas.

Horas se passaram sem que ela percebesse. Absorta em sua criação, parecia estar dentro da própria obra, caminhando por aquele mundo nascido de sua mente. Via dunas elevando-se majestosas contra um céu, lagos serpenteando calmamente entre cajueiros. Ouvia o canto dos pássaros, o sussurro do vento brincando entre mangueiros o murmúrio suave da água através das marés. Sentia o calor do sol acariciando sua pele, a brisa fresca dançando em seus cabelos e o perfume das flores envolvendo-a como um abraço. Naquele momento, estava completamente feliz.

Quando finalmente deu o último toque em sua obra, afastou-se para observá-la. Ficou maravilhada com o que viu: uma paisagem perfeita, única, quase viva. Sorriu, sentindo uma profunda satisfação. “Essa é a minha paisagem na mente”, pensou consigo mesma.  

E então, em um sussurro que ecoou como um chamado ancestral, veio a palavra:  

— Mayandeua!


FIM 

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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0411


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