* Nº 0429 - ESTÓRIAS DE MAYAZITA - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA

 


                                     



No coração de um vilarejo esquecido pelo tempo, onde o mar cantava canções, vivia Mayazita, uma jovem de dezesseis anos cuja presença era como um raio de sol . Seus cabelos castanhos-claros, trançados com flores, enquanto seus olhos verdes pareciam guardar segredos antigos e promessas futuras. Desde criança, Mayazita possuía um dom único: ela transformava dor em beleza e adversidade em esperança através de suas histórias.

O vilarejo, embora pitoresco, enfrentava desafios constantes. A fome rondava as casas simples, e a perda precoce do pai deixara marcas profundas na alma de Mayazita. No entanto, ela aprendeu a usar sua imaginação como um escudo contra as tempestades da vida. Suas narrativas eram geradas, misturando mitologias antigas, criaturas fantásticas e lições de coragem e amizade. Quando os aldeões se reuniam no centro do vilarejo, suas palavras ganhavam vida, transportando todos para mundos distantes onde até mesmo as sombras podiam ser iluminadas pela chama da esperança.

Certa noite, enquanto Mayazita contava a história de um dragão que guardava estrelas roubadas do céu, algo inesperado aconteceu. Um homem alto e imponente surgiu à beira do grande lago, envolto em um manto negro que parecia absorver a luz ao seu redor. Seus olhos vermelhos brilhavam como brasas, e sua postura emanava uma aura de mistério e poder. O murmúrio dos aldeões cessou instantaneamente, e muitos recuaram, tomados por um medo inexplicável.

Mas Mayazita não se intimidou. Com um sorriso caloroso, ela caminhou até o estranho e disse, com a voz firme e melodiosa:

— Boa noite, senhor. Meu nome é Mayazita, e sou a contadora de histórias deste lugar. Posso ajudá-lo?

O homem observou-a por um longo momento antes de responder, sua voz grave ecoando como trovões distantes:

— Boa noite, Mayazita. Sou Teslion, rei mágico de um reino perdido. Estou aqui porque procuro algo... ou alguém. Uma história que foi tirada de mim há séculos.

Intrigada, Mayazita inclinou a cabeça e perguntou:

— Que história é essa? E por que você a busca?

Teslion começou a contar uma lenda trágica. Era a saga de um rei mágico que governava um vasto império cercado por florestas encantadas e lagos prateados. Ele se apaixonara por Aimu, uma princesa de espírito livre e coração valente, filha de um rei vizinho. Apesar de todo o poder e riqueza que o rei mágico possuía, Aimu o rejeitou, pois seu coração pertencia a Gabupo, um guerreiro humilde que liderava uma resistência contra a tirania do rei.

Tomado pela rejeição e pela ira, o rei lançou uma maldição sobre Aimu: quanto mais ela tentasse escapar, mais fraca ficaria. Desesperada, a princesa fugiu para um vilarejo remoto, mas o rei mágico jurou encontrá-la, atravessando reinos e eras em sua busca implacável.

— E agora — concluiu Teslion, fixando seus olhos flamejantes em Mayazita —, acredito que você seja a reencarnação de Aimu. Minha busca finalmente chegou ao fim.

Um arrepio percorreu a multidão, mas Mayazita permaneceu calma. Ela respirou fundo e respondeu:

— Não sou uma princesa, nem pertenço a você. Meu lugar é aqui, entre meu povo.

Furioso, Teslion ergueu as mãos, invocando magia  para subjugá-la. Mas Mayazita, rápida como o vento, fez uso de seu maior dom: a imaginação. Começou a contar uma nova história, uma epopeia épica sobre um herói corajoso que unia seu povo para derrotar um tirano cruel. À medida que suas palavras fluíam, elas ganhavam forma e substância, materializando-se diante dos olhos atônitos dos aldeões.

Os moradores, inspirados pela narrativa de Mayazita, pegaram paus, pedras e qualquer coisa que pudessem usar como arma. Juntos, formaram uma barreira protetora ao redor dela, enfrentando Teslion com coragem renovada. A força coletiva de suas vozes e a determinação em seus corações enfraqueceram a magia do rei, até que ele desapareceu em meio a uma nuvem de fumaça. Após a partida de Teslion, o vilarejo celebrou Mayazita como uma heroína. Sua coragem e criatividade haviam salvado a todos, provando que a união e a imaginação eram armas poderosas contra qualquer ameaça.

Com o passar dos anos, Mayazita continuou a contar histórias, mas agora suas palavras alcançavam reinos distantes. Dizia-se que Teslion ainda vagava pelo mundo, buscando sua história perdida, mas Mayazita sabia que a verdadeira magia estava nas histórias que cada pessoa criava ao viver sua vida com autenticidade e propósito.

E assim, o vilarejo prosperou, protegido pelas palavras de Mayazita e pela força de sua comunidade. Em cada página escrita por ela, havia um lembrete de que, mesmo nos momentos mais sombrios, a luz da imaginação e a coragem do coração podem mudar o destino.

FIM

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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0429



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