* Nº 0412 - CANTOS E ENCANTOS NATURAIS - SÉRIE: CONTOS FANTASTICOS DE MAYANDEUA
Tarde de Sesta
Passarinho cantando,
- À sombra dormindo.
Era uma tarde tranquila, e o sol, em sua plenitude, inundava o céu com um brilho intenso. Sob a copa de uma árvore, uma sombra fresca se estendia pelo chão, abrigando alguém que ali repousava serenamente. O calor do dia não parecia perturbar o passarinho que, empoleirado em um galho próximo, entoava seu canto alegre e suave, como se fosse parte da própria melodia da natureza. Nada rompia a quietude daquele momento — até que um vento frio começou a soprar, trazendo consigo os primeiros sinais de uma tempestade iminente.
O passarinho interrompeu seu canto e alçou voo, buscando refúgio em um lugar mais seguro. Quase ao mesmo tempo, o homem que dormia à sombra despertou ao som dos trovões distantes. Era jovem, cansado após um longo dia de trabalho, e agora se levantava, espreguiçando-se enquanto olhava para o céu que rapidamente escurecia. Sabia que precisava voltar para casa antes que as primeiras gotas de chuva começassem a cair. Assim, nasceu estas estrofes...
Canto I: TEMPESTADE
A tempestade vem chegando,
Com seu rugido assustador.
Ela traz a chuva e o vento,
E também o seu furor.
Ela lava a terra e o ar,
Com sua força e sua luz.
Ela mostra o seu poder,
E também a sua cruz.
Ela é bela e é terrível,
É sublime e é cruel.
Ela é vida e é morte,
É fogo e céu.
Ela canta e ela chora,
Ela ri e ela geme.
Ela é a voz da natureza,
Que nos encanta e ao homem teme.
Canto II: SOMBRAS
A sombra das árvores
É um refúgio e um abrigo.
Ela nos protege do sol,
E também do perigo.
Ela é suave e é fresca,
Silenciosa e fiel.
Ela é amiga e é mãe,
Doce como o mel.
Ela acolhe e embala,
Consola e é amada.
Ela é a paz da natureza,
Que nos envolve e afaga.
Canto III: AO PÁSSARO
O passarinho é um cantor,
Que alegra o nosso dia.
Ele traz sua música,
E também sua alegria.
Ele é livre e é leve,
Colorido e belo.
Ele é sonho e é arte,
Seu canto, eterno.
Ele voa e ele brinca,
Encanta e surpreende.
Ele é a graça da natureza,
E aos seus defende.
Canto IV: AO HOMEM
O homem é um ser
Que busca seu lugar.
Ele tem sua luta,
E também seu sonhar.
Ele é forte e é fraco,
Sábio e tolo.
Ele é amor e é ódio,
Luz e também fogo.
Ele cria e destrói,
Ri e chora.
É o desafio da natureza,
Que nos intriga e devora.
Canto V: A NATUREZA
A natureza é uma força
Que rege nosso viver.
Ela tem sua beleza,
E também seu poder.
Ela é diversa e única,
Harmoniosa e rebelde.
Ela é fonte e destino,
Origem e semente.
Ela dá e ela tira,
Cura e também fere.
Ela é mestra de nossas vidas,
Que nos ensina e surpreende.
A chuva cessou, e o sol retornou timidamente ao céu, pintando-o com raios dourados que pareciam promessas de renovação. O homem chegou em casa, molhado, mas grato por ter encontrado abrigo sob a sombra acolhedora das árvores. Após secar-se, deitou-se na cama e adormeceu profundamente, sonhando com o passarinho cujo canto doce havia marcado aquela tarde como um breve instante de serenidade em meio à correria da vida.
Enquanto isso, o pequeno pássaro alçou voo rumo ao horizonte desconhecido, até alcançar sua morada: Mayandeua, uma ilha mágica onde flores exuberantes dançavam ao vento e outras aves viviam em perfeita harmonia. Ali, ele foi recebido com respeito e gratidão, como parte integrante da energia pulsante daquele lugar sagrado. Naquela terra encantada, ele encontrou não apenas felicidade e liberdade, mas também um propósito renovado.
Ao amanhecer do dia seguinte, o passarinho sabia que voltaria para cantar novamente ao homem que repousava sob a sombra do velho cajueiro. Ele compreendia que sua música era mais do que simples melodia; era um elo invisível que conectava mundos, inspirava corações e cultivava esperança. A cada nota entoada, ele plantava sementes de paz e harmonia, que ecoariam muito além daquele momento compartilhado entre ele e o jovem.
Naquele ciclo simples de vida, onde o canto de um pássaro encontra o coração de um homem, nasceu uma centelha de esperança. E essa centelha, alimentada pela energia de Mayandeua e pela força silenciosa da natureza, se expandiria gradualmente, tocando outros corações, transformando outras mentes. Pois, mesmo nos gestos mais humildes, reside o poder de mudar o mundo — e talvez fosse exatamente isso que o universo queria lembrar a todos nós.
FIM
© Copyright de Britto, 2021 – Pocket Zine
Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0412