ANUNS Nº 0362- CRÔNICA
No céu, o Anum-preto voou ligeiro, dando cambalhotas e piando, anunciando sua súbita presença no Verão Norte, próximo aos imponentes cajueiros da Camboinha.
Na superstição dos caboclos, esse pássaro saliente entoa seu canto de desgraça e feitiçaria. Dizem que é amigo da morte, sendo evitado pelos vaqueiros como um presságio sombrio.
Nas colônias e capoeiras, são chamados de "chuva", e seus ovos, conhecidos como "vixe-Maria", são considerados desastrosos até para serem alvos de pedradas. O Anum-preto, pássaro arteiro, espera na beirada do caminho, desconjurando os desavisados que passam, causando transtornos e alimentando histórias centenárias.
Quando o temporal se aproxima, o Anum-preto reúne-se em bando, esperando o anoitecer. Pulam, piando, observam os passantes. Dizem que, se canta à meia-noite, traz presságios de mortes.
No cajueiro, o Anum-preto espanta as aves pequenas, mata a sede na pocinha do tronco, protagonizando aventuras e travessuras que ecoam como lendas do pássaro negro.
Diante da ventania que se intensifica, o Anum-preto permanece imóvel, como um advogado destes homens. O pássaro, por aqui, tem seu lugar, feio aos olhos de muitos, mas com uma fala própria que parece brotar do silêncio das cercas de arame.
- Estes, vivem brincando nas tardes de Maya!
FIM
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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 362