* Nº 254 - O SONO DE RANI - SÉRIE: FÁBULAS DE MAYANDEUA
Era uma vez, no tranquilo “Recanto do Lago”, uma jovem rã chamada Rani. Desde pequena, ela era conhecida por duas peculiaridades: sua incrível capacidade de dormir em qualquer lugar, a qualquer hora, e suas pernas desproporcionalmente longas, muito maiores do que as de qualquer outra rã da família. Para os habitantes do lago, Rani era vista como alguém esquisita, pois gostava de passar horas submersa nas águas salobras, enquanto todos os outros preferiam ficar à margem, aproveitando o calor do sol.
Rani tinha um sonho especial: conhecer o fundo do mar. Certa noite, antes de adormecer cedo sob a luz prateada da lua, ela compartilhou seu desejo com seu melhor amigo, Cururú, um grande sapo sábio e bondoso. Ele ouviu atentamente e disse:
— Basta pular na água do mar na maré cheia! E pronto!
Essas palavras ecoaram na mente de Rani enquanto ela caía em um sono profundo. Mas aquela não seria uma noite comum. Durante o sono, algo extraordinário aconteceu: Rani começou a andar. Os moradores do lago, acordados pela movimentação incomum, perceberam que ela era sonâmbula. Com medo de intervir, todos se retiraram para suas casas, deixando Rani seguir seu caminho sozinha.
Naquela mesma noite, Rani chegou à beira do mar. Sem hesitar, pulou nas ondas iluminadas pela lua e desapareceu nas profundezas azuis. Ninguém mais a viu voltar.
Cururú, sempre otimista, tentou acalmar os corações aflitos dos moradores do lago.
— Ela vai voltar — dizia ele com convicção. — E quando isso acontecer, vocês ficarão surpresos com o que ela trará consigo.
Os dias se transformaram em semanas, e as semanas em meses. A ausência de Rani deixou saudades, mas também gerou especulações. Um dia, um baiacu curioso contou ao papagaio Primolius uma notícia intrigante:
— Há rumores de que uma rã muito famosa está vivendo nos arredores do “Furo Velho”. Dizem que ela tem pernas enormes e é admirada por todos lá. Será que é a nossa amiga Rani?
Primolius voou até o local indicado e, ao retornar, trouxe notícias ainda mais surpreendentes. Segundo ele, Rani havia descoberto um mundo mágico debaixo d’água, onde suas pernas longas eram uma bênção, permitindo-lhe nadar mais rápido e explorar recantos inimagináveis. Ela havia se tornado uma heroína entre os habitantes do fundo do mar, ajudando peixes perdidos, limpando corais e protegendo criaturas marinhas vulneráveis.
Os moradores do Recanto do Lago ficaram maravilhados com a história, mas também ansiosos. Será que Rani realmente voltaria? Cururú continuava firme em sua crença:
— Quando o momento certo chegar, ela estará aqui novamente. E então entenderemos que ser diferente não é algo a temer, mas sim uma dádiva.
Assim, o Recanto do Lago seguiu sua rotina, esperando pacientemente pelo retorno da rã sonhadora. E embora muitos ainda questionassem se Rani voltaria, todos aprenderam uma valiosa lição: às vezes, aqueles que parecem diferentes são exatamente quem precisa partir para encontrar seu verdadeiro propósito — e talvez, um dia, retornar para inspirar os outros.
Moral da história: Ser diferente pode ser o maior dom que alguém possui, pois nos leva a lugares que ninguém jamais imaginou alcançar.
FIM
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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 254