*Nº 0252 - NO TRAPICHE, PROSAS “PRA” CONTAR - SÉRIE: CRÔNICAS DE MAYANDEUA
Na terra dos Encantados, no trapiche, se escuta de tudo. Entre prosas e desafetações, ecoam subsídios de um local hospitaleiro. Canoas e barcos são movimentados pela mesma água, numa dança harmoniosa que desperta a ilha com seus burburinhos.
Lá, no banco de algum lugar, perto da maré, se ouvem histórias de Fulano:
- Fulano lavou a burra!
- Fulano tá me devendo...
- Fulano perdeu alguma coisa...
- Fulano ouviu dizer...
No trapiche, a vida se desenrola em ondas de conversas e segredos. A rede de Fulano foi cortada, a canoa de outro ensecou, e Fulano foi receber algo importante. Na mesa de bar, também perto da maré, negócios são feitos:
- Fulano vendeu um cento de bacuris.
- Fulano comprou a linha de algum transporte.
- Fulano perdeu o barco...
- Fulano comprou alguma coisa.
A comunicação adentra no vento, espalhando-se como as marolas que beijam a areia. Após o almoço, os momentos de modorra se instalam. Alguns se calam, outros nem sequer deitam, deixando a vida fluir num ritmo próprio. Sobre as nuvens quase densas no horizonte, outros barcos chegam, trazendo esperança e alegria para uns, e notícias agudas para outros. Na terra dos Encantados, o trapiche continua a ser palco de histórias e destinos entrelaçados.
Clarificada pela lua, a ilha vira a página de mais um dia. No agora, peixes por toda parte, e nas varandas, o silêncio. Apenas o vento e a força das águas ressoam nos tímpanos. Na terra/mar dos Encantos, no trapiche, se escuta de tudo. E os Encantados seguem descansando em suas redes, balançando pra lá e pra cá.
- Amanhã é outro dia!
Local: No trapiche!
FIM
Copyright de Britto, 2021
Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0252