* Nº 0264 - TARDES NO PORTO - SÉRIE: POEMAS DE MAYANDEUA
À sombra dos mangueiros,
onde a terra úmida exala um cheiro ancestral,
A tarde morre por entre as tetas da Mãe de Todas as Mães...
A montanha adormecida,
corpo colossal, em seu corpo natural,
Suas vestes de areia e mar suavizam a Vida,
um manto celestial.
Luzes sobressaem ao som de Homens no porto,
vozes roucas e fortes,
Companheiros de todas as formas,
unidos por ventos e sortes.
Ilusioneiros que transbordam um tempo que não existe,
em canções e juras vãs,
Outros, amigos que trazem uma Palavra de Fé,
acalmando as ondas e os divãs.
Outros apenas sorriem,
um brilho nos olhos,
segredos que o mar contém.
À sombra das nuvens que passam,
como sonhos em um céu sem rédeas,
Mayandeua direciona,
em seu ritmo lento, novas e velhas ideias.
Uma nova ilusão se tece no ar salgado,
um véu de promessas e desejos,
Uma nova realidade emerge suave,
nos passos lentos e nos beijos.
Assim o sol vai indo embora,
como um amante relutante a se afastar,
Ao som de uma saudade de gente boa,
de risos soltos sob o luar.
Ritmos das palmas dos coqueiros cantam outra canção,
um lamento suave e doce,
Antologias de notas que ficam nas embarcações,
memórias que o vento não destroce.
A sombra de outros e outras,
silhuetas alongadas na areia macia,
Versos através de onomatopeias desfrutam o momento,
risos que a brisa irradia.
"Splash" das ondas na costa,
"cri-cri" dos grilos na mata densa,
"Zum-zum" de insetos noturnos,
uma sinfonia que nunca cessa.
Fios de luzes fazem o sol segurar a última teta,
um esgar de brilho derradeiro,
Todos ficando no “escuro”,
a paleta do céu mudando para um tom mais nevoeiro.
Somente as águas te trarão outros versos,
em seu murmúrio constante e profundo,
E a vida vai seguindo na ilha,
em seu compasso eterno e fecundo.
Sai a tarde, entra os devaneios,
a mente flutuando em mares de fantasia,
Nada poderá perecer por aqui,
a alma da ilha resiste à fria.
A tarde foi para outro caminho,
mas deixou um rastro de cores no céu,
Mas, ficam os sons,
os minutos, o cais, um eterno carrossel.
À sombra das sombras nostálgicas,
lembranças que aquecem o coração,
Eis o recomeço através das luzes que surgem,
rompendo a escuridão.
Caminhantes, recomeçam os seus passos na areia,
sob um manto estrelado,
Agora, é voltar para casa e esperar,
o sol de amanhã, um novo legado.
O ciclo se fecha, a noite se instala,
e Mayandeua adormece em paz,
Guardando em seu seio os mistérios da vida,
que o tempo jamais desfaz.
Enquanto a Mãe de todas as Mães
Dorme, cansada.
E no porto...
A eterna espera do novo mar.
FIM
Copyright de Britto, 2021
Projeto Literário e Musical Primolius Nº 0264