*Nº 0043 - ILHA DE ALGODOAL, ESTÓRIAS CABOCLAS - SÉRIE: CONTOS FANTÁSTICOS DE MAYANDEUA

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Na proa da montaria, Compadre escuta alarmado os sons que ecoam pela noite: tambores, crianças, instrumentos. É a Ilha de Algodoal! Todos ficam assustados, como se uma força invisível tivesse tocado suas almas. A lua se assenta na maré, e o imediato, perdido em pensamentos, deslembra da pescaria. "Vixi! Que diabo é isso?" exclama, enquanto "Manduca" até esquece a rede. Galopes, suspenses e cantos ecoam da bela ilha, misturando-se com o som das ondas. Antônio segura o crucifixo com força, sentindo um temor crescente. "Manduca" adverte com uma estória antiga, sussurrando que ali era o império da princesa encantada. Antônio, exageradamente abalado, roga aos céus, sob a noite estrelada. Ao longe, claridades surgem, aproximando-se lentamente do barco.

Com os caninos rangendo de tensão, Antônio observa enquanto a equipe de bordo reage com histeria. Surge uma caravela de amplo tamanho, enchendo os olhos dos pescadores de medo. Abarrotado de assombros, aquele momento parece congelar no tempo. Os pescadores, aglomerados e sobressaltados, assistem ao início do banzeiro causado pela Mãe D’água. Inesperadamente, a embarcação começa a submergir, deixando todos atônitos. Em um movimento desesperado, transplantam a pedra grande, mas logo a luz desaparece   para o rumo da praia de Salinas.

Essas são as estórias do encanecido pescador de pratiqueiras, contadas nas noites escuras ao redor da fogueira. Lendas e mistérios que envolvem a Ilha de Algodoal, onde o sobrenatural e o real se misturam em um tecido de narrativas que desafiam a compreensão. A proa da montaria segue seu caminho incerto, e o compadre, ainda alarmado, mantém-se vigilante. Os tambores e os cânticos se tornam ecos distantes, mas o medo persiste, tatuado em suas mentes. Antônio ainda segura o crucifixo, um símbolo de esperança e proteção contra o desconhecido.  Enquanto isso, o imediato e "Manduca" tentam compreender o que presenciaram, sabendo que tais experiências ficarão em seus olhos. O mar, testemunha silenciosa, guarda os segredos de cada jornada, e as histórias dos pescadores continuarão a ser contadas, perpetuando a magia e o mistério da Ilha de Algodoal.

Na calma que segue o tumulto, a noite volta a sua serenidade. As estrelas brilham, indiferentes aos medos humanos, e a lua, companheira fiel dos navegantes, observa do alto. A montaria, agora mais tranquila, desliza pelas águas, levando consigo homens que enfrentaram o desconhecido e saíram transformados. A vida continua, e com ela, as lendas que enriquecem a cultura daquela região. Cada pescador carrega em seu coração um pedaço dessas histórias, transmitindo-as às novas gerações, mantendo viva a chama do mistério e da tradição que envolve as águas e as ilhas da Amazônia.

- Segundo Antônio, aquilo era uma nave que devora embarcações!

- Estórias do encanecido pescador de pratiqueiras.


FIM

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Projeto Musical e Literário Primolius Nº 0043

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